terça-feira, 28 de junho de 2011

Pai...


"Pai!
Pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo prá gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez...

Pai!
Pode ser que daí você sinta
Qualquer coisa entre
Esses vinte ou trinta
Longos anos em busca de paz...

Pai!
Pode crer, eu tô bem
Eu vou indo
Tô tentando, vivendo e pedindo
Com loucura prá você renascer...

Pai!
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Prá falar de amor
Prá você...

Pai!
Senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensine esse jogo da vida
Onde a vida só paga prá ver...

Pai!
Me perdoa essa insegurança
É que eu não sou mais
Aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos teus braços você fez segredo
Nos teus passos você foi mais eu...

Pai!
Eu cresci e não houve outro jeito
Quero só recostar no teu peito
Prá pedir prá você ir lá em casa
E brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar
Ah! Ah! Ah!...

Pai!
Você foi meu herói meu bandido
Hoje é mais
Muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
Pai! Paz!..."

Fábio Jr.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A coisa mais linda que meus olhos já viram


Eu sou a preferida do meu pai. Eu sei disso, ele sabe, meus irmãos sabem... todos sabem. Meu pai sempre quis ter uma filha, uma menininha. Eu cheguei como um acidente. Não fui planejada, nasci depois de 12 anos do meu irmão do meio. Eu mudei a vida dele... eu sei, porque ele me mostrou isso todos os dias da minha vida.
Ele me liga só pra falar oi... 300 vezes ao dia. Ele liga pra minha casa e só pergunta por mim e mais ninguém. Quando ele está com problemas, quando ele está feliz, quando está com dúvida, quando está com saudade... é pra mim que ele liga. Eu sou o xodó dele.
Trocamos os papéis há algum tempo. Eu sou a mãe e ele o filho. Eu cuido dele, ele me obedece. Meu pai não é fácil, nunca foi. Sempre tivemos uma relação super conturbada e difícil, mas sempre nos amamos na mesma intensidade. Eu mando tomar banho, passo perfume, penteio o cabelo, escolho a roupa, brigo quando não toma remédio ou quer pegar um empréstimo desnecessário no banco. Eu abraço, beijo, afago, aperto, cheiro... eu o chamo, de brincadeira, de meu bichinho.
Mesmo assim, acho que não fiz o bastante. Ainda assim sinto culpa e acho que fui negligente em algum ponto. Se eu tivesse prestado mais atenção, talvez o coração dele estivesse mais forte, talvez ele conseguisse respirar sozinho, talvez ele estivesse bem. A UTI me pereceu um lugar tão frio e solitário, apesar de todas aquelas pessoas que lá habitam. Fico pensando nas coisas que deviam passar pela cabeça do meu pai, no medo que ele tem de hospital e médico, no medo que ele tem de morrer. Mal sabe ele que aqui do lado de fora eu partilho do mesmo medo. De não ter mais oportunidade de dizer como eu o amo e de como ele é importante pra mim.
Meu pai usava até pouco tempo atrás uma medalha no pescoço com o meu nome. Eu cresci ouvindo dele que eu sou a coisa mais linda que os olhos dele já viram. E agora, numa madrugada na qual eu não consigo dormir nem parar de chorar, meu coração bate descompassado e lento, como o dele...