Trabalhar mais de dez horas em pé não é fácil. Nem contar centenas de camisetas, chaveiros, dvds, cds, máscaras, malabares, imãs e por aí vai... Também não é nada fácil aguentar uma chefe durona, de humor volátil e grosseira quando bem entende. Atender 2.500 pessoas a cada espetáculo, responder todas as perguntas cretinas, as indecisões de compra, a falta de educação de muitos deles. Não é fácil acordar pra trabalhar e dormir pensando no trabalho, na conta errada, no produto não vendido, na insatisfação do cliente.
Esse é o dia-a-dia do merchan, apelido carinhoso do Merchandising do Cirque du Soleil. Parece chique né? Mas não passa de um trabalho semi-escravo! Sem moleza mesmo! A gente rala muito, cansa muito, fala muito, faz tudo em excesso! E, pela primeira vez, aquela comunidade do orkut fez sentido pra mim: "A gente se fode mas se diverte". E é verdade... o tempo inteiro todo mundo reclama de tudo. Comida, água quase sempre quente, calor, suor, gente demais. Temos que varrer nosso espaço, fazer requisição de novos produtos, arrumar tudo, fazer váááárias coisas... pra começar tudo de novo. Os pés doem, a cabeça pesa, a coluna tortura. Mas no fim das contas vale a pena! Conheci trocentas pessoas, todas diferentes, todas interessantes, de nacionalidades diferentes, de comportamentos admiráveis, de ternura sem igual. Pessoas que fazem valer a pena todo o cansaço. São engraçadas, divertidas, inteligentes. São especiais. Nós rimos muito da nossa própria desgraça! Tiramos sarro dos nossos defeitos, dos defeitos dos outros e, porque não, das qualidades também. Não dá mais pra ouvir a música tema do espetáculo sem sacanear, sem fazer passinhos descabidos, soltando aquela gargalhada gostosa que o circo inteiro ouve.
Todos os dias me sinto um caco. Mas um caquinho cheio de novos amigos, com novas experiências loucas, com recordações muito legais de dias de trabalho árduo no circo do sol.
E como diria meu queridíssimo chefe André: "Merchaaaaannnnn, posiçããããooooo!".